28/04/2011

Prefiro a ficção banal

Depois de conferir em um dia que a banalidade está bem maior no cotidiano que na ficção ( e onde o ácido crítico incisivo para repreendê-la? Essa narrativa vazia - esse esforço maquiado para levar adiante a fraqueza do enredo.).
Trump, que não é Madoff, sei lá por quê, exigindo uma certidão de nascimento a Obama – que não pertencem ao mesmo mundo é notório e juramentado.
Trump é ianque de carteirinha – o self-made man montado em um mundo de botox e antiderrapantes. Um mundo de reagans e bushes assessora seu sorriso pontual – e um campo de golfe desenha a imensidão que conhece.
Uma promotora treinando a loucura para se livrar do lamaçal do mensalão do demo. Que cena patética e mais banal se poderia presenciar? A cabra cega do lenço verde tateia as câmeras gigantes enfiando a mão nas grossas lentes como se perfurasse a imagem.
Ah, tem as mães desovando os bebês em lata de lixo de banheiro hospitalar e em caçamba. Caramba. Medeias mequetrefes em sombras.
Deixei passar o que o demônio do ressentimento fez naquela escola, eu nem quis ver essa nódoa. Nesse pesadelo não entrei por fraqueza mesmo.
Já não basta a banalidade da política formal que mal se explica em contas e gastos e mais gastos sem nenhum resultado? E tudo que se arrecada em real fica assim, onde? Diluído.
E a famigerada revisão do Código Florestal que vai destruir as matas ciliares, os rios – a água, vai abrir gigantescas portas para mais desmatamento e mais e mais destruição do país em nome da produção? Aldo, deputado, vê o futuro do país guiado pelo dogma do passado russo – e vai fazer o papai Estado pisotear as futuras gerações, mas o dogma só vê a ação do presente. Ancora ainda esse discurso a senadora Kátia, que também é presidente da Cna: ambos nunca ouviram falar que uma tal de tecnologia poderia triplicar/quintuplicar a produção agropecuária sem que preciso fosse derrubar mais uma árvore? A tecnologia - ela, a tekné da empeiria, sabe ela? Sabe dela? Ei, já ouviram falar em tecnologia - vocês aí da revisão do código florestal, já leram os dados, já estudaram os que se opõem? Não né?
Já não basta que os ditadores do oriente, espetados por protestos recentes da sociedade, anunciam rendição branca enquanto fazem ao mesmo tempo a chacina diária?
Eu quero deixar meu You're fired também. A quem encaminho a petição? A seta vai pra onde? Onde direciono o meu raio?
Fugindo da insônia, invencível, liguei a tv. Duas mulheres idênticas acenavam em canais vizinhos – 14 e 15 - soluções mágicas pela fé.
Uma fluidificava um copo com água enquanto orava ao Deus de Abraão ( o que ia sacrificar o filho no altar da fé na “ação sem verbo”, para mostrar sua obediência sem fim ) e ela alertava: tome uma atitude de fé e fortaleça a obra do senhor, senão nada de vitória; a outra espargia mandatos de confiança nas entidades encapsuladas, algumas desnudas não como as índias, mas como amazonas vermelhas sorrindo um timeti - que ela faz e desfaz qualquer trabalho ( seu turbante azul confirmava ), derruba qualquer inimigo seu, detona mesmo, manda falange fechar empresas e amarrar amores, enquanto seu cenário de cera e pedra polida revelava o congá fake que fazia uma vela elétrica tremer a água azul de uma fonte de plástico.
Ih, ainda tem o casamento real – onde o príncipe sorridente envolverá em névoas beneplácitas de polidez a plebéia fashion na carruagem dourada. Que tenham muitos filhos reais e sejam felizes para todo o sempre.
Vou mandar essa realidade ver se estou em alguma esquina virtual.
Realidade: vá ver se estou lá na Cam!