26/01/2010

Um tremor de perguntas

Li na Folha de domingo uma entrevista com a geóloga Lisa Grant, da Califórnia. Entre muitas reflexões, disse que o terremoto no Haiti não foi uma surpresa para ninguém da área científica. O terremoto de 92 na Califórnia foi similar mas ninguém morreu. Ela afirma que as construções por lá são seguras.
Incrível como apoios internacionais – como o da ONU – não tivessem dado uma olhada nesses estudos de geólogos. Apoio numa área de risco deveria compreender esse sentido de segurança mais óbvio, ou amplo. Do que adiantou essa força de paz no Haiti por anos se sequer conseguiu perceber que estavam todos em uma área de risco permanente? E sequer imaginaram que as construções no Haiti eram tão frágeis como todo o resto?
O Brasil comanda a missão. Uma missão de paz que, não preparada para a catástrofe, acabou ela mesma vítima do tremor.
Nós temos as nossas tragédias por aqui, e permanentes. A seca é uma. Sim, há um projeto para mudar o curso do São Francisco. Nossos projetos são gigantescos, como o nosso território. Será que não haveria um outro mais modesto e que resolvesse mesmo a tragédia da seca? E que não envolvesse tanta verba e espetáculo? Não dá para dar uma olhada na experiência dos kibuts?
Nós temos áreas inteiras onde impera a fome e a miséria, mas já nos foi revelado pelas próprias autoridades que nós temos dinheiro suficiente para sanar de vez essa maldição. Será que não haveria um projeto mais humano e eficaz do que apenas distribuir uma quantia mínima para as famílias? E que não vinculasse esse projeto a governos da hora, que não fosse objeto de propaganda de partidos esse ato obrigatório de qualquer governo?
Nós vamos em consenso defendendo a Amazônia, quase todos publicamente fazem isso. E a devastação continua, como enxame de gafanhotos em plantação de milho. Em vez de caças caríssimos para proteger o pré-sal ou sei lá o quê não se poderia ocupar a área com barcos e soldados? Também ocupação territorial, porque, ao que se revela, os inimigos da grande floresta moram por aqui mesmo.
Nós teremos problemas com energia. Mas não dá para dar uma pesquisada leve sobre energia eólica e solar? Parece que somos riquíssimos por aqui em vento e sol.
Está tudo assim, improvisado. Nosso passado intocado pela ameaça velada.
Alguém que eu li relembrou a gafe da Folha: se pudesse escolher entre as ditaduras no mundo atual: Cuba, China, Coréia, Irã, teria escolhido a brasileira. As pessoas piraram? Quando a ditadura entra em algum leque de escolha não temos mesmo muito em que pensar.
A ditabranda protegida pelo receio das revelações? Ora, que se abram todos os arquivos, que se busque também a Era Vargas, que se revele logo tudo sobre todas as ditaduras.
Se é que existe alguma novidade nesse triste tema. E parem de vez com essa rede de insinuações, essa tentativa torpe de trocar censura do passado por censura atual.
Isso tudo com discursos de coros em off, das revelações divinas. Recebi não sei quantas mensagens dizendo que a tragédia no Haiti foi para trazer ao mundo uma nova vibração.
Eu não sei então onde estavam essas forças divinas que não soltaram um raio em cima da gestapo, SS ou diabo a 4, ou um veneno ectoplasmático no ar do qg dele, o monstro. Algo que libertasse o mundo do demônio austríaco. Se era nele somente, e não no desejo de grande parte dos alemães da época, que se ancorava essa baixeza do pior dos homens.
Ou alguém vai me dizer que precisávamos ter essa mácula em nossas vidas? Algum positivista extemporâneo falando em carma coletivo?
Talvez eu seja demasiado humano e ingênuo para entender tragédias, políticas, atos demoníacos e ações divinas.
Talvez por isso tenha lutado por anos para salvar uma linda árvore das garras de um sacerdote ( de uma religião que diz cultuar a natureza ). Perdi. Ela se foi. Como se vão as pessoas boas e de boa intenção acometidas por males invencíveis. Estarão mais tranqüilos agora os espíritos dos "índios" cultuados pelo religioso?

Estou aguardando ou guardando minhas expectativas na vitória do bem.
Tomara mesmo que o retorno do Avatar cristão confirme a profecia.
Ele poderá observar pessoalmente que a má fé e a maldade estão camufladas de boa vontade.
Poderá ver o quanto se mata ainda em nome do amor ao divino.
Mas se ele soltar dos céus essa sentença, eu me não me surpreenderia:
“Está tudo muito improvisado irmãos”.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Meu blog de gaveta.