11/01/2011

Lugares

De forma que eu estava ainda zonzo com tanto barulho do ataque do vizinho com fogos de artifícios sobre a Maternidade vizinha à casa de minha irmã (imagino como os recém-nascidos adoraram aquela novidade), que ainda estava no ar, no eco do meu mau humor, esse êxtase, e nem me lembrei da posse da “presidenta” Dilma, como ela tenta emplacar, mas não cola. Eu tinha me esquecido completamente da transmissão do cargo de presidente da República!

Estava tudo assim, uma realidade vascaína.

Toda vez que voltava minha atenção para a TV, no entanto, era em hora errada. Numa, vi o Senador exaltando os louros da vitória do povo em prosa e verso, tendo na sua trajetória um esforço em manter por décadas o poder do seu clã no Nordeste para que ficasse tudo igual, uma tragédia social. Vi Maluf com seu riso tranquilo ao lado de Benedita esvaziada lançando um beijo próximo na presidenta, depois ( não sei mais se foi ao vivo ou repeteco ) a amiga, traída pelos colegas do filho em projetos de maracutaias imensas, leve como uma sombra, a abraçava, serelepe; apareceu Collor de perfil, e noutra, finalmente, a faixa presidencial foi meio assim jogada em seu pescoço, como um empréstimo, por um Lula apressado em vazar ( para voltar? Aposto que sim. ).


Incrível também essa insistência da presidente Dilma em ficar repetindo que prefere o barulho da imprensa ao silêncio das ditaduras. Fora de propósito isso. Uma presidente não tem que preferir nada em relação à liberdade de imprensa, apenas cumprir a Constituição. Em uma democracia estabelecida não é necessário mais pontuar essa diferença, é tautologia pura.

A menos que seja apenas para marcar a diferença com a democracia de Chaves ( que promove silêncios ) e descartar de vez o já descartado ( esperamos ) projeto de controle da imprensa.

A mesma Carta Magna que assegura a ela o comando das forças armadas – e o speak dizia nessa hora sem completar, mas eu completo: essa é a emoção que a nossa democracia nos dá, Dilma, ex-guerrilheira agora é a chefa das Forças Armadas. Então: a Carta é que rege, percebeu presidente? Não há preferências, só nas urnas. Essa é a democracia política que construímos no Brasil - e que nunca mais sofrerá retrocessos.


Enquanto a TV insistia na euforia sóbria e global de que algo inédito acontecia, eu, idiota, devia ter apagado aquilo logo e metido um Steve Hackett, ou o pagode do Vavá, no último furo para ninar o sono do maldito fogueteiro.

Mas eu ouvi algo aparentemente sem importância que de alguma forma foi o significado para mim de toda a cerimônia – vista em pedaços.

Uma mulher, na hora dos cumprimentos das autoridades estrangeiras, soltou naquela boa e clara voz de aeroporto uma ordem de cerimonial, enquanto os comentaristas da Globo estavam quietos.

Para mim, a frase definitiva:

“Por favor, permaneçam em seus lugares...”