Seria então o que sobrou: eu não entendo, senhor. Se eu entendesse eu diria: entendo. Uma resposta servil a um mundo militarizado.
O teatro de Gerald revela o que deixamos ser construído: um vazio que nos faz tatear endereços, um caminho sem volta, o conhecimento inútil da nossa fragilidade. O painel do corpo pendurado, um Freud perdido, super-herois em pastiche, os mantras dos nomes, algo que precisa ser anunciado porque está revelado demais ( continuo amanhã, diria o pensamento, diria o cansaço que se disfarça, mas o amanhã será apenas a repetição em um labirinto contínuo, amanhã, onde a saída?, o que fazer se o que vejo apenas me representa nesse cenário de ruínas? ).
Ilse, em Os Gigantes da Montanha, de Pirandello, representa a fragilidade da arte diante de um mundo cada vez mais rude – o que resulta em seu esfacelamento pela plateia, num ato radical para que parasse aquela apresentação. Ela é a protagonista do ato absurdo que, cercada pela sua trupe mambembe, demonstra sua dor trágica e o transe incontrolável.
A estrada que Pirandello escolhe não é a de Damasco, não é a encruzilhada da simples escolha imediata. Pirandello escolhe a estrada que o leva à esfinge, sabendo que a via transversal a ela sempre leva, por ela sempre passa, marcando com um xis o perigo do encontro, montando o confronto. E para ele, assim como disse tempos depois Artaud, “a qualquer pergunta da esfinge a resposta seria: O Homem!”
Se em Pirandello a vida detona a arte, em Gargólios, de Gerald Thomas, há o açougue humano, a peça de carne pendurada figura como um crucifixo ou um adorno inevitável, dentro da peça onde super-heróis travados buscam ao menos falar. Nem isso, são super-herois fabricados pela própria vontade esfacelada, mas não se mantêm em pé, suas asas coladas ameaçam um vôo irrisório e sua agonia é a de nosso tempo intra-conectado: é preciso revelar, mas o quê?
E se os mantras marcassem rápido demais, devagar demais, colagem demais, nessa repetição dos nomes e coisas que apenas não interessam. Esvaziada a potência do homem por qualquer ganância, por guerras com sentidos bem claros e outras sem sentido algum, o que sobrou é a análise dessa nulidade. Mas nem isso é mais possível – há um vazio que nos pergunta: achou engraçado? Pois é, chegamos nesse estado, decida aí qual sentimento você escolhe para disfarçar isso. É só esta realidade que temos no cardápio, que saem pelos gargólios de uma edificação frágil, esboroada, mas temos várias sombras de sobremesa, o super-heroi adverte, no entanto: “mas tudo igual, tudo a mesma coisa”.
O teatro de Gerald revela o que deixamos ser construído: um vazio que nos faz tatear endereços, um caminho sem volta, o conhecimento inútil da nossa fragilidade. O painel do corpo pendurado, um Freud perdido, super-herois em pastiche, os mantras dos nomes, algo que precisa ser anunciado porque está revelado demais ( continuo amanhã, diria o pensamento, diria o cansaço que se disfarça, mas o amanhã será apenas a repetição em um labirinto contínuo, amanhã, onde a saída?, o que fazer se o que vejo apenas me representa nesse cenário de ruínas? ).
Ilse, em Os Gigantes da Montanha, de Pirandello, representa a fragilidade da arte diante de um mundo cada vez mais rude – o que resulta em seu esfacelamento pela plateia, num ato radical para que parasse aquela apresentação. Ela é a protagonista do ato absurdo que, cercada pela sua trupe mambembe, demonstra sua dor trágica e o transe incontrolável.
A estrada que Pirandello escolhe não é a de Damasco, não é a encruzilhada da simples escolha imediata. Pirandello escolhe a estrada que o leva à esfinge, sabendo que a via transversal a ela sempre leva, por ela sempre passa, marcando com um xis o perigo do encontro, montando o confronto. E para ele, assim como disse tempos depois Artaud, “a qualquer pergunta da esfinge a resposta seria: O Homem!”
Se em Pirandello a vida detona a arte, em Gargólios, de Gerald Thomas, há o açougue humano, a peça de carne pendurada figura como um crucifixo ou um adorno inevitável, dentro da peça onde super-heróis travados buscam ao menos falar. Nem isso, são super-herois fabricados pela própria vontade esfacelada, mas não se mantêm em pé, suas asas coladas ameaçam um vôo irrisório e sua agonia é a de nosso tempo intra-conectado: é preciso revelar, mas o quê?
E se os mantras marcassem rápido demais, devagar demais, colagem demais, nessa repetição dos nomes e coisas que apenas não interessam. Esvaziada a potência do homem por qualquer ganância, por guerras com sentidos bem claros e outras sem sentido algum, o que sobrou é a análise dessa nulidade. Mas nem isso é mais possível – há um vazio que nos pergunta: achou engraçado? Pois é, chegamos nesse estado, decida aí qual sentimento você escolhe para disfarçar isso. É só esta realidade que temos no cardápio, que saem pelos gargólios de uma edificação frágil, esboroada, mas temos várias sombras de sobremesa, o super-heroi adverte, no entanto: “mas tudo igual, tudo a mesma coisa”.