Talvez eu seja o homem-bomba que os serviços secretos procuram. Quero, porém, explodir o que é abstrato, e minha explosão também é abstrata. Na verdade, ou na mentira, o jogo posto não me interessa, e minha mão direita embaralha de novo as cartas marcadas sobre a velha mesa. Eis que achavam que eu era o valete de paus, ou sete de copas, mas, no escondido, eu sou o rei de espada. E um rei não segue orientações, porque finge aceitá-las.
O que Roma soberba me ensinou até agora que eu ainda não soubesse? O romanesco e seu rotacismo trôpego? O massacre do plural? Eu vejo o templo de Vesta e ali desejo acender o fogo.
Deuses lares – como um povo que sacraliza a família pode abandoná-los? Eu vejo o resto do templo de Saturno e ali quero deixar um pano preto, uma flor de cacto. Quero colocar um peixe para o Netuno preso no mármore. ‘Minha alma não se ajoelha’ nem tão pouco meu corpo. Eu, sozinho, me crio e me desfaço – me despedaço como o Zagreu amigo. Eu não me enrosco mais nas relações - porque sempre tardias - nem incenso as banalidades. Eu sou minha tarde, meu crepúsculo entre montes, mas o Sol me é sempre suficiente! Se a pressão subiu no silêncio que não fiz, eu sou o vizinho de dentro.
Não atento para a Ilíada: sempre as palavras perigosas me atravessam a barreira dos dentes.
Roma me ensinou isso: ‘há perigo em cada esquina’ e também nos quartos.
Estou de novo desfeito, uma escolha ao acaso, e preparado para desfazer porque a corda-bamba, mais que o homem-bomba, é meu caminho predileto, sempre o foi.
E veja, sou gordo…
Espero, quando caio na teia, espero. Sempre foi assim, comigo as coisas não funcionam na velocidade do meu desejo, e isso me exaspera.
18/06/03