29/04/2008

Onde a poesia das coisas comuns? Onde o Bandeira dos gestos, o Drummond das calçadas? Onde o Rilke no pensamento? O Hölderlin dos cisnes? Onde o Vinícius dos bares? Onde estão? Perderam-se nas bobagens das odes vazias, na pós-modernidade zoppa? A poesia pulverizou-se, fugiu para o silêncio? Onde a poesia que cismava em ancorar em minha tela? ( que mal lhe fiz para que se afastasse? ). Onde o chamamento, a invocação certa – ó musas! Musa, vem me ajudar a cantar o tédio da segunda, o desleixo da memória, o desinteresse pelo comum. Venha poesia, transmutar meu olhar seco, meu palavreado pobre enriquece com arabescos. Empreste-me sua voz, seu timbre único, seu ouvido atento. As letras que formam as palavras, onde cores novas? Onde o Rimbaud nas minhas palavras? Poesia, que vela afinal te acende? Que flor melhor te incensa? Onde o Pound, o âmbar mágico? E Poe: existe acaso um bálsamo no mundo? Nada a cantar nessa segunda morna, diga-me com que força toco seu portal? Qual a senha, a ranhura, o assoprado segredo? Quem sonhou que a beleza passa como um sonho? pergunta o belo Yeats. Quero falar da praça acariciando a tarde cinza, a Irlanda do outono paulistano. Ungaretti diz: ilumino-me do imenso; bêbado do universo, é de ti que ele fala. Poesia – sua crisma – minha noite, diagonal, metafísica, onde o sinal que te agrada? No martelar esgotante de Cabral, não sei, palavras, se trocadas, vão ser outras. No cabalar dos sentidos? Se paro, hoje, e vejo que os sentidos, tolos, me deixam sem nada, sem futuro e pensamento, estou sem tormento.

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