19/11/2008

Príncipe Negro

Não tenho entrado muito na Internet não. Às vezes a coloco como um mundo à parte. As urgências da internet não são as minhas. O que poderia ser tão urgente num e-meio? O que poderia mudar a história num clique? Teatro nas telas eletrônicas, manifestações de spans ( tem uma tal de Magali que quer que eu queime minhas gordurinhas urgentemente, olha ela aqui ): "6 kg mais magra(o) em 2 semanas! Adeus, gordurinhas Você sonha com um chá que tenha os poderes de emagrecer, mas sem o sabor amargo? Magali" Magali, eu sei que você é um spam, mas me ouça: eu adoro amargo, já tomei cana com pau pereira, gosto muito de jiló, losna e carqueja. Quer mais? E chocolate - tem que ser amargo. Você, Magali, é um espanto, como sabe que tenho alguns quilos a mais? Vendedores de chips? Gente querendo conversar sobre o quê? Há sempre uma urgência premeditando a leitura. A urgência é para o governo ( e seu ibope contado diariamente ), para os investidores e seus números cinzas, para os que querem a voltar a comer contra-filé. Há urgência para os que não conseguem mais viver sem aplausos e nem percebem a generosidade alheia, alheios que estão no excesso de páginas abertas, de info-códigos. Há urgência para tantas bobagens.
Quero as flores abertas, parar para ver uma príncipe negro se abrindo ao vivo e a cores. A avaliação diária de Ricardos e Reinaldos, de condutores movimentando-se em dicções estranhas, mas demasiadamente cariocas e paulistas, de estetas pós-vanguardas que buscam a coteveladas leitores? Não, prefiro reler Rosa em meu parco tempo livre. Machado nos metrôs. Ou um texto de Gullar que achei numa Ilustrada velha, já amarelada, que falava disso, do cheiro da vida, e de flores. Ou: como é bom ficar por cinco horas vendo o Oficina dançar seu evoé!
A informação e a imagem não têm essa importância vital, sequer sei o porquê do garoto ter ficado trancado com duas garotas, e nem quero saber. Cansei. Depois de ver a bonequinha on line ser atirada pela janela na cena diabólica remontada. Não, meus olhos não merecem isso. Eu quero ver a criança sorrindo, delirando com um brinquedo inédito criado por ela, e ponto. E vi isso numa quebrada, nos olhos do garoto estava a benção da existência. Havia um brilho mago em seus olhos, um sorriso tranqüilo, uma presença.
Quero ver a estrela matutina, sempre um presente, mesmo apelidada, no texto sacro, de inimiga. Ela jorra, soberana, hoje, suas fagulhas pratas, como se fosse um pentagrama tatuado no azul. Quero esticar-me na cama, como um gato, e olhar o teto como uma expansão, não um limite. Quero ouvir um LP de Gismonti ( pode ser Carmo ) e fumar um cigarro de palha de milho, tomando um café com açúcar mascavo em plena montanha, numa casa que conheço e cobiço. Por que a pressa para dizer e responder ao mundo? Querem se arrumar? Bem, aí são outros quinhentos. Comecem pela despoluição urbana, mental e física. Comecem a respeitar a vida, e o outro. Comecem a sanear não só as finanças, mas a ganância e as maldições lançadas a cada minuto. Comecem a limpar a sujeira dos séculos.
Mas quem quer saber disso?


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