11/02/2009

Janela do Céu

Ninguém pode descobrir os segredos das cores do entardecer, a montanha desenhando faces. Dimensões escondidas. E as caminhadas, terra mais acima em seis horas. Liga-se o automático que a manhã permite, e senta-se na nascente. O olho da terra jorrando água, a janela do céu pagando em ouro a penitência de sedentários, fumantes e obesos.
Do alto das árvores os gaviões nos observam. Eles esperam a movimentação das corais e cascavéis, quando andamos e as tiramos sem saber dos ninhos no tropeço das botas. Esperam também seu banho de sol e seus cheiros da manhã. Os gaviões esperam seu banho de sangue, mas isso é bonito. Há horas que a cadeia de montanha se desenha mar – e as ondas cinzas parecem sobrepujar os olhos, criando sequências de linhas do horizonte e ilhas, acima. Como é bom estar sozinho. Agora o Sol se escondeu atrás da montanha, todos os bichos correm para o meio da trilha – estão indo atrás de sua luz, divindade móvel. Os lobos se espreguiçam para acordar. Bateu a noite repentina.
Os lobos gostam da lua e das latas noturnas que os turistas entopem. Passam ao largo as vozes dos montanhistas – os banhistas das águas geladas, os comentadores dos lugares. Há um fio de luz por sobre a montanha – estoura em dourado fosco.
O Sol revela ainda faces e mais faces num mosaico instantâneo.
Assim, meu movimento, montado em navegação dúbia-provisória, vela sem querer margens.