Bem, aqui é blog, e às vezes linguagem de blog. Eu não sei bem o que é isso. Também não sei responder a críticas, leitores sempre entendem mais. Saio escrevendo quando dá vontade, por isso abri esse blog, e, já disse, é rápido. Linguagem de blog se é algo próximo de diário, tô fora. Meu diário está guardado – e ainda impublicável. Mas vou tentar a tal linguagem.
Só sei que não sou do tédio e do sofrimento. Solar, uma vez disseram: você é solar. É verdade, sempre fui, em qualquer ocasião lanço minha energia no que desejo, mesmo que seja algo insignificante. Criptonita pra mim é gente com tédio ou enfraquecida. Li que meu odu – dei uma espiada num site desses – não admite que eu fique perto de pessoas frágeis. Eu tinha uma amiga assim: era ela se encostar numa mesa de bar e começar o rosário de dúvidas e sofrimentos existenciais que eu logo ia ficando mole, acabado. Depois descobri com um xamã que ela era uma vampira, sugava minhas energias. Ele viu nas brasas das pedras. Com certeza ia para casa limpando os dentes enquanto eu desabava no sofá, detonado. Nunca mais a vi, sempre que ela marcava alguma coisa eu dizia que ia, mas furava ( que é a maneira carioca de dizer: não quero mais te ver ).
Ele fez lá uns rituais comigo na mata a preço módico e tive três dias de pesadelos ( já estava avisado que os pesadelos seriam a expulsão da vampiragem ). Um ritual gostei. Era olhar para cima e tentar ver o céu na mata densa até que uma ave de rapina gritasse à direita. Aquilo foi uma limpeza. Mas só fiz uma vez. Hoje estou com a chama violeta, ritual pós-tudo individual esotérico. Difícil é mentalizar a chama – só consegui três vezes, mas é uma chacoalhada geral quando é visualizada. Portanto, nem me venham com xororô, não me enviem essa moléstia que chamo logo a chama.
O que vale mesmo é a estrada, e a minha está cada vez mais cheia de atalhos. Se vejo alguém esperando Godot, dou meia volta. Se ouço alguém falar de doença no metrô, olho na cara da pessoa e me afasto. Se há alguma matéria sobre catástrofe, lanço fora o jornal. Se sou pego por bate-boca de magistrados na tv e não desligo - aí sou mais o que tem mais melanina. Também não sou capanga pra branquinho vir falando comigo assim não, quequié? Estou ficando cada vez mais superficial, esse é o caso. Porque a densidade do mundo é criptonítica. Esse que falou que eu era solar era um calabrês. Que engraçado. Estava em Bologna num castelo alugado por estudantes. E esse calabrês fez um prato típico para mim e meu amigo na época, diplomata hoje. Como sou distraído com ataques, nem percebi que ele não comia o que nos ofertava. Era um frango com tanta pimenta, mas tanta, que o acarajé mais quente tornava-se um bolinho insosso. Para não deixá-lo em situação constrangedora, pois era um prato oferecido com preâmbulo de típico, de mamma, de nonna, comi. As lágrimas saíam e eu as secava, disfarçando com o guardanapo. Anos depois é que percebi que seu olhar de curiosidade não estava ligado ao meu interesse na sua culinária, mas ao ato vil de confronto com um brasileiro solar. Aquele calabrês tinha ciúme da minha solaridade e da minha feijoada para 40 pessoas - sucesso, mesmo queimada. Ele chamou de prato pesado, agora me lembrei. Ele - poxa, agora lembrei de tudo aqui, on line. Tim tim por tim tim.
Só sei que não sou do tédio e do sofrimento. Solar, uma vez disseram: você é solar. É verdade, sempre fui, em qualquer ocasião lanço minha energia no que desejo, mesmo que seja algo insignificante. Criptonita pra mim é gente com tédio ou enfraquecida. Li que meu odu – dei uma espiada num site desses – não admite que eu fique perto de pessoas frágeis. Eu tinha uma amiga assim: era ela se encostar numa mesa de bar e começar o rosário de dúvidas e sofrimentos existenciais que eu logo ia ficando mole, acabado. Depois descobri com um xamã que ela era uma vampira, sugava minhas energias. Ele viu nas brasas das pedras. Com certeza ia para casa limpando os dentes enquanto eu desabava no sofá, detonado. Nunca mais a vi, sempre que ela marcava alguma coisa eu dizia que ia, mas furava ( que é a maneira carioca de dizer: não quero mais te ver ).
Ele fez lá uns rituais comigo na mata a preço módico e tive três dias de pesadelos ( já estava avisado que os pesadelos seriam a expulsão da vampiragem ). Um ritual gostei. Era olhar para cima e tentar ver o céu na mata densa até que uma ave de rapina gritasse à direita. Aquilo foi uma limpeza. Mas só fiz uma vez. Hoje estou com a chama violeta, ritual pós-tudo individual esotérico. Difícil é mentalizar a chama – só consegui três vezes, mas é uma chacoalhada geral quando é visualizada. Portanto, nem me venham com xororô, não me enviem essa moléstia que chamo logo a chama.
O que vale mesmo é a estrada, e a minha está cada vez mais cheia de atalhos. Se vejo alguém esperando Godot, dou meia volta. Se ouço alguém falar de doença no metrô, olho na cara da pessoa e me afasto. Se há alguma matéria sobre catástrofe, lanço fora o jornal. Se sou pego por bate-boca de magistrados na tv e não desligo - aí sou mais o que tem mais melanina. Também não sou capanga pra branquinho vir falando comigo assim não, quequié? Estou ficando cada vez mais superficial, esse é o caso. Porque a densidade do mundo é criptonítica. Esse que falou que eu era solar era um calabrês. Que engraçado. Estava em Bologna num castelo alugado por estudantes. E esse calabrês fez um prato típico para mim e meu amigo na época, diplomata hoje. Como sou distraído com ataques, nem percebi que ele não comia o que nos ofertava. Era um frango com tanta pimenta, mas tanta, que o acarajé mais quente tornava-se um bolinho insosso. Para não deixá-lo em situação constrangedora, pois era um prato oferecido com preâmbulo de típico, de mamma, de nonna, comi. As lágrimas saíam e eu as secava, disfarçando com o guardanapo. Anos depois é que percebi que seu olhar de curiosidade não estava ligado ao meu interesse na sua culinária, mas ao ato vil de confronto com um brasileiro solar. Aquele calabrês tinha ciúme da minha solaridade e da minha feijoada para 40 pessoas - sucesso, mesmo queimada. Ele chamou de prato pesado, agora me lembrei. Ele - poxa, agora lembrei de tudo aqui, on line. Tim tim por tim tim.
Calabrês demente, onde quer que você esteja: em sua vila na Calábria, apinhado de filhos na Sicília ou liberando a franga na Vêneto, sua pimenta para mim foi refresco. Seu castelo foi uma aventura, dormi na sua cama de mogno no ano novo - derramei sangria sem querer na colcha de renda de crochê que sua nonna te deu, e que a bailarina bergamasca tentou lavar, piorando a situação. E foi nela que me deram o narguilê para uma puxada só. O castelo teve a porta quebrada pelo amor negado, não a mim, mas a meu amigo, hoje diplomata ( o mesmo que comigo brigou no bar com chão de areia na tediosa Berlim porque eu queria escapar daquela terra cinza e deprimente). Calabrês bocó, você nem sabe que eu emprestei minha blusa de lã natural para o veneziano fazer o teste na peça – e ele me homenageou ( porque entrou para o elenco ) com feijão azuchi com alga kombu – delícia. Foi dois dias antes de irmos a Siena, para sermos abandonados na praça pelo professor que nos convidara para emplacarmos o projeto do Glauber. Sim, uma história e tanto: após acertar tudo conosco, por pressão não sei, sei sim, de quem, o professor de cinema tremelento nos convidou para um vinho amoroso na praça gelada para nos desconvidar! Mal podia falar, estava constrito. E, para variar, não senti o golpe na hora. Eu não creditei verdade no absurdo ato do acadêmico. Nem ele acreditava no que dizia. Povero uomo.
Tremia para dizer-nos que não poderia levar o projeto à frente, pois o banco estava falindo, ahahah, depois de quatro reuniões em Copacabana, de termos ligado de Bologna cinco dias antes e gasto toda a grana da produtora na viagem. E meu amigo, hoje diplomata, dizia, é o que ele está falando mesmo? Esse desgraçado está falando isso mesmo Alan? Ele não fala inglês, esse italiano pra dentro, não estou entendendo nada, é isso mesmo cazzo? Ahahah. Foi uma história e tanto – e está em meu diário. Os textos, tadinhos, encadernados e divididos para os seminários, esquecemos na estação inóspita.
Tremia para dizer-nos que não poderia levar o projeto à frente, pois o banco estava falindo, ahahah, depois de quatro reuniões em Copacabana, de termos ligado de Bologna cinco dias antes e gasto toda a grana da produtora na viagem. E meu amigo, hoje diplomata, dizia, é o que ele está falando mesmo? Esse desgraçado está falando isso mesmo Alan? Ele não fala inglês, esse italiano pra dentro, não estou entendendo nada, é isso mesmo cazzo? Ahahah. Foi uma história e tanto – e está em meu diário. Os textos, tadinhos, encadernados e divididos para os seminários, esquecemos na estação inóspita.
Calabrês da pimenta, não sei porque fui me lembrar de você e dessas histórias de uma quinzena de anos. Ah, foi por causa do solar. E porque passei lá no Mau, ele se parece com Wilde. Sim. Solar eu. Nada de vingança calabrês, eu faço a chama violeta, não violenta, hai capito scemo?
Taí, gostei dessa tal linguagem de blog. Essa blogagem.