20/04/2009

Vida longa a Obama!

Dentro da ação virtual possível apoiei Obama. Fiz campanha mental e até textos enviei para a campanha, em uma garrafa de bits num mar agitado. Não vou dizer que enviei um discurso da posse para seu coordenador, em inglês de rede, e que fiquei paralisado quando ele leu algo próximo, boa parte do mundo pensava igual. Delírio? Pode ser. O mundo virtual é feito de delírios e acessos.
Se eu pudesse teria batido na porta dupla do rancho do tiozinho armado, no Texas, e tentaria convencê-lo a votar em Obama. Teria ido a Michigan ou ao Alaska colocando cartazes de sua campanha. Já pensou se a outra chapa ganhasse? Um monolito na mente do mundo. Não ia dar.
Parecia a febre de minha primeira juventude quando apoiava candidatos - Gabeira 86, por exemplo, os outros prefiro esquecer. Foi um erro geral.
Senti o que o mundo sentiu: com Obama iniciamos mesmo uma nova era.
Por isso me irrito quando leio por aqui, e pelo mundo, análises sobre o governo que mal se iniciou. Ontem li no Corriere uns cablocos falando que ele parece Berlusca. Mamma mia. Diziam lá que ele afirma que vai mudar tal coisa, depois dá três passos pra trás. Falavam do Irã ( é preciso grandeza para fazer o que fez Obama ) ou estavam falando de Cuba? Ora, xongas, Cuba já disse que discute qualquer coisa com Obama, mas não está na hora de Cuba sofrer sua reviravolta? Que raio de revolução é essa que se estagnou? Não há como conceber um sistema onde a liberdade individual esteja cerceada por burocratas. O povo cubano é maior que isso, e se no passado os revolucionários passaram fogo em quem não acreditava na causa – o que é algo repugnante em qualquer época – chegou a hora de confrontarem a nova realidade: não há mais chance de Cuba sustentar esse regime, ele está empalhado, ficou no passado, diluiu-se. Que Cuba agradeça a Obama a chance de desfazer essa atmosfera romântica de que na Ilha criou-se o socialismo. E aja rapidinho, liberte seus prisioneiros políticos, abra para eleições gerais e assuma o que já existe: os cubanos vão reconstruir suas vidas, a despeito de lideranças uniformizadas e discursos fossilizados. Fidel deveria fazer isso ainda em vida: imagine se quando ele chegar no céu de Lênin e perceber que só estavam esperando ele largar a ilha para tudo se revolucionar de fato. A vida é movimento, comandante, e ninguém tem o poder de detê-la. Ninguém mesmo.
Nessa cúpula das Américas Obama foi bem elegante com as provocações. Desde o livro do Galeano doado por Chaves ( que alertava para a exploração e o belicismo da América do Norte com Bush, mas nunca deixou de vender um balde de petróleo a eles: por que não criou um embargo venezuelano? ) ao aviso que os EUA teriam um plano de assassinato – por Morales ( que aos poucos vai perceber que é mais usado por companheiros presidentes que atingido pelo branco de olhos azuis escalpelado pela realidade ). Um, cheio de petróleo, outro, cheio de gás, outro de soja, gado, frutas, ouro e tudo o mais, e os índices de miserabilidade lá no alto. Dizer o quê? Afinal, que impedimento há para que o povo viva bem por aqui? É ainda o Consenso de Whashington? Ou seriam os desvios, a cultura do apadrinhamento, o jogo jogado do poder local? A cultura do salvador da pátria da vez?
Eu não sei se Obama já tinha lido o livro, mas uma coisa é certa: aqui, na América Latina quando não há exploração internacional e ditadores plantados, como na década de setenta, há exploração doméstica e ditadores democráticos. Querem rever toda a história? Bom momento. Comecem por desmontar messianismos, auto-idolatria e cerceamento das oposições. Não é sustentando a imagem do explorador estrangeiro, e se fortalecer para as massas com esse discurso, que se cria um novo continente. Isso só nos trouxe moléstias.
Um líder tem que ter a grandeza de revelar erros, de anunciar que precisa de atuações em conjunto. Tem que suportar a fúria da vaidade do seu ego e redesenhar os caminhos. Tem que ter a coragem em ser honesto. Obama tem isso: sabe que os desafios produzirão novos pensamentos e ações dignas. E a transparência do seu caráter está nisso, nessa força em avaliar que o mundo é um processo, e que o estabelecido, o tacanho e o pequeno precisam ser afastados – numa ação revolucionária de verdade.
Vida longa a Obama!