O mar da prainha branca não deixou ninguém entrar. Ele invadiu o que quis: campings, bares, casas. Falaram que não ocorria há três anos tamanha ressaca. Não vi como ressaca, mas MAR. Cada vez mais para trás assistíamos ao avanço das ondas pesadas espalhando-se, tragando e afastando tudo. O mar recuava, tomando galeio. Lá vinha a onda-mãe, e correria... Não poderia haver comentários, somente olhares exaltados, risos nervosos.
O soco das ondas multiplicava o prata, aumentado com o luar. A lua mostrava, móvel, as grossas linhas pratas. E o spot da lua nos trazia a água, tão rápida, é que ficávamos encantados com a luz.
Irlandeses lights - wiccans ? - passavam na contramão, rindo no esforço com a areia colada, achando corriqueiro, wiccans dominam assim? O olhar da irlandesa me viu. Falei com as mãos: sai daí, o mar está levando. Ela dançou agarrada por uma corda de vegetação. E o cabelo ruivo faiscava acendendo seus movimentos. Os irlandeses comemoravam a vegetação que os ancorava na puxada das ondas. Se mostravam, únicos, na beira da praia ( nem um caiçara para espiar de perto, para honrar ). Será que eles trouxeram esse Poseidon, ou seria Lir? A alegria deles revelava êxtase. Esse mar não tinha nada de Iemanjá.
Tudo no vento leste, o mar soberano, sobrando. Eu vi. Um casal tropeça na onda que ultrapassa o muro – embevecidos (a noite promete). Outros casais se formavam sem querer, perfilados.
Era para além da luz que vinha o mar possante. Nada de linha do horizonte, o mar vinha do fundo. De onde antes era precipício.
Parados nas encostas, nas entradas de campings e bares, paralisados, esperávamos.
Era uma espera de torcida secreta para que as ondas, cada vez maiores, nos alcançassem para onde quer que fingíssemos fugir.