Me ensinaram para não escrever nada assim direto. Escolher palavras, o tom, o ritmo e muitos etcs. Me disseram que mesmo para parecer algo espontâneo é preciso algo burilado. Sempre achei estranho isso. Mas são escritores profissionais que me explicaram, em ocasiões as mais diversas. Como não acreditar neles? " Nunca confie em sua imaginação, e trave seus dedos. Há um perigo em se publicar algo sem trancafiá-lo ao menos por meses na gaveta. Reescreva tudo, dê uma limada geral. Às vezes não fica nada, melhor assim." Escrever seria então esse processo complexo, perturbado, quase imaginário. Pois é, mas agora estou fazendo tudo ao contrário, escrevo direto no blog, e se mudar só mudo acento, que ainda estou zonzo e preguiçoso para decorar como é que ficou todo esse novo estojo de regras. E ia escrever sobre manipulação de sentimentos na tv, mas acabei esquecendo mesmo do que se tratava. Ah, era algo relacionado à exploração de imagens ou de verdades. Fiquei preocupado em explicar que escrevia direto no blog, mas esse blog - agora com mais de 500 leitores, graças ao Gerald que linkou assim do nada, ficou solto, e estou intoxicado por assuntos políticos, escândalos e estratégias.
Gerald Thomas que é um cara absurdamente humano e genial ao mesmo tempo. Parece um príncipe cigano inglês, um lord errante que anota mais nada, apenas ri. E noves fora, um dramaturgo que não precisa elaborar mais nada, pois já está tudo ali, à sua frente. Fui ao ensaio da sua blognovela e a cena das meninas se atirando contra a parede, uma cena tão ariana, tão atual, não ficou. Parecia que o sólido ia se render ao insistente ritmo frio das personagens.
Fiquei em meio aquela exibição perplexo ao vê-lo diante dos atores, ou ao lado, fazendo a cena descer do nada, descer a personagem de um jeito técnico candomblaico. Um rigor despojado.
Agora esse blog não consegue ver os leitores e nem há comentários, então o blog acaba escrevendo para si mesmo, como se fosse um riso para os que acham escrever algo tão complexo como desenhar a imagem. Bobagens, as palavras estão aí, disponíveis, doidas para serem usadas.
E o blog tem um botão - rascunho - que congela o texto, se o leitor oficial entrar com olhos mais de amigos que escrevem reescrevem resenham cortam alinhavam jogam fora restauram e nunca publicam até que o crítico da mesa ao lado lhes diga: agora pode!