01/04/2009

Blog do Gerald me lembrou do Zé Celso

Fui assistir ao espetáculo de José Celso Martinez e sua companhia Uzyna Uzona já com meio de século de atividades, no teatro Oficina: Os Bandidos. Foi em dezembro. E que espetáculo, e que companhia! As seis horas de espetáculo foram deslumbrantes. Transe geral.

Lembro de As bacantes no teatro do Cais no Rio, de Ham-let no Oficina.

Zé Celso e o Teatro Oficina é a revitalização da cultura, do pensamento, do tesão, da ritualística do teatro. Em um país como o Brasil em que Glauber Rocha, nosso cineasta-autor, nosso visionário, sempre foi um incômodo para a crítica e para o país, reverenciar Zé Celso é oxigenar nossos ares cada vez mais poluídos. Ao ver o documentário sobre Galuber, lembrei-me de Barthes: a crítica não pode assinar o desejo da criação porque está condenada ao erro – à verdade. O último documentário sobre ele e Terra em Transe, feito por sua filha Paloma, Anabasys mostra um pouco isso. É de arrepiar.

Zé Celso é o ícone da resistência da banalização da vida, da arte no país. Que consiga vencer sua luta para ocupar toda a área vizinha ao Teatro Oficina e criar seu sonhado teatro de Estádio. Tivéssemos um governo razoável, em qualquer nível, estadual ou federal, todo o projeto do Teatro Oficina já teria sido apoiado. Vi no youtube a visita de Gil e até coloquei um comentário: não agüentei ouvir o ainda Ministro dizer que a cidade é quem deveria reivindicar o espaço do entorno ao Teatro e aderir à luta. Não há uma política pública para a cultura? Não se posicionam claramente os que deveriam indicar a multiplicação de atividades culturais, seus espaços, suas atividades.

Devo dizer que havia na peça muitos recursos tecnológicos absolutamente adaptados ao movimento magístico do teatro, mas havia também um assentamento para Ibejis, com outro a Dionisio bem ao lado do palco, na terra. Também uma chama trina acesa ( velas azul, amarela e rosa ) para a imagem de São Cosme e São Damião.

O espetáculo fala sobre o poderio financeiro, sobre resistência cultural, sobre tesão. Sobre a guerra travada com SS sobre o espaço ao lado. Alô Sílvio, vê se desencana e faz algo de nobre – o Oficina tem moral e ética para reivindicar o espaço. Embarque logo no AnhangaBaú da Feliz Cidade. Será mais que a porta da esperança, acredite.

Mais que qualquer tema ou peça, o que sempre me impressiona na companhia de José Celso, e nele, é justamente o tesão, a religiosidade pagã e humana, algo como uma celebração contínua à vida. É o culto dionisíaco que sacode a rua do Oficina e quem lá estiver.

Busco detalhes no excesso de espaços cênicos do Teatro Oficina. Em cima, embaixo, ao lado, no escuro, no claro, na banda, no iluminador, em todos, escondidos da cena ou não, há uma corrente, uma descarga elétrica de prazer, um contentamento com o teatro, uma celebração – um desdobramento para a rua, o teatro sai para a rua, vem dela, como na cena dos urubus. Pude observar que o iluminador, no escuro, repetia baixinho as falas, ou dançava, como se num transe. Tudo interligado pelo desejo, tudo numa perfeição.

Evoé Oficina, o Teatro vive.