29/06/2009

Mais ou menos Jackson

Se me assustei com a repercussão da morte de Michael Jackson? Sim, e muito. Não, nem um pouco. Depois de demonizado pela maxmídia por atos que ele mesmo construiu ( afinal um top pop star não vive sem ela nem ela sem ele ) Jackson vai ter a morte prolongada.
Um anti-Narciso que tornou a cena do pop seu recanto tumultuado.
Lembro que a morte de Lennon me atingiu muito, eu era muito novo, foi como se um sequestro de algo superior. Lennon expandia a virtude do homém além do sucesso, era um ativista de si mesmo, um iconoclasta romântico.
Não que eu queira pesar ou medir as duas perdas. Prefiro ver Jackson como um novo Fred Astaire, e está de bom tamanho. Entendo nada de ídolos.
Sua viagem com a terra do nunca ou sua possível viagem com a força da goécia contra supostos inimigos ( Vanity Fair 2003 ), com sangue de bois e ovelhas, há uma repulsa nisso tudo, um afastamento imediato. Se pensamos em seu nome - Michael, Mikael, tudo passa a ser uma inversão geral.
Há algo de imposição do particular para o excesso da visibilidade. Há algo de estranha anti-natureza encapada em ingenuidade, em tempos paralisados. Nunca embarquei nessa. Mas gosto de Dorian Gray.
Também se seu embranquecimento era por motivos de doença física ou psicológica, se a redução do seu nariz era consequência disso ou daquilo pouco me importa. Cada um que escolha sua cor e desenhe seu nariz como quiser. O que me passa sua imagem, se do monstro que se revela em Triller, ou se o andrógino em black or white, alguma admiração fica pela exuberante performance e a superprodução dos filmes - vídeoclipes.
Para mim é tudo estranho, alheio. Como sua imagem. Há algo de egípcio nisso tudo, uma mumificação em vida, uma renúncia ao natural. Vi uma cena: com seu filhinho no colo, com um véu, mamando. Um buraco no véu por onde passava a mamadeira. Não sei se é o mesmo que ele brincou de atirar pela janela. Triller purinho.
Fato para os estudiosos do decadentismo, de Praz e cia.
Como para um jovem que cresceu cantando Noel, Cartola e Chico, como alguém que passou os anos ouvindo Clara, os mineiros e Jobim possa se envolver com isso tudo? Se saísse disso, ia para Stones ou Lennon. O meu pop sempre foi o rock de Jagger. Havia algo de Jagger em Jackson, como uma máscara turva. Ou uma máscara furada.
Dizer, então, que Jackson influenciou o planeta em cada canto e se tornou um ícone absoluto para todos e etc não vira para mim. Não atinjo isso. Se a mídia fará essa morte ser longa e detalhada? Se vai vasculhar os últimos dias, minutos e seus atos secretos, se ainda havia algum? Não tenho dúvida.
Alguém precisa vender a notícia, nem que seja um frágil e poderoso menino preto-branco que flutuava nos palcos canções banais e geniais ( a pedidos ), e muito ritmadas.

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