10/08/2009

A quebra do coro


Vi, em partes, duas entrevistas ontem. Dois senadores que se opõem à vulgarização, em todos os sentidos, do Senado. Simon e Vasconcellos. O primeiro insiste para que estudantes, intelectuais, donas de casa, trabalhadores e indignados em geral ocupem as ruas: vocês têm que ir para a rua, porque daqui não sairá nada. O outro, respeitado político pernambucano, analisa a crise responsabilizando o governo: a conivência do governo com o que está fora do círculo da ética levou a esse estado de coisas, ou a essas coisas do estado, sei lá.
Fiquei pensando no cansaço disso tudo. No excesso de importância a que se dá a essas personagens enfurecidas e engravatadas que vociferam ameaças veladas e ocupam o noticiário. Gente que já tinha sumido na poeira do planalto, gente que chegou por lá sem um votinho sequer. Ocupam nosso tempo, construindo uma realidade que interessa só a eles mesmos – e são pela imprensa veiculados como as pessoas que decidem nossas vidas e a do país.
São o deus ex machina do nosso cotidiano, do nosso drama banal, da nossa vidinha mais ou menos.
Fiquei pensando se essa deformação não enquadraria ( infestaria ) o ambiente que se poderia criar em um país que buscasse algo maior que não somente essas revelações cada vez mais misturadas – revelações de atos estranhos à res publica e a manutenção de posturas e costuras políticas heterodoxas.
Não Senador Simon, os senhores ganham uma grana preta para criarem algo além de um chamado às ruas. Ou cantarem num Senado vazio. Falar é uma das funções primordiais para vossas excelências. É um fundamento de Senador. Que falem – nunca deixarão de ter um agrupamento de repórteres ávidos pelas vossas informações – preciosas ou perniciosas.
Há quantas décadas não se reúnem nesse conhecimento absoluto e íntimo, nesse clube de decisões, vinculações e camaradagens?
Não irei para a rua, não levantarei faixas nem cartazes, mas posso inverter vosso chamamento.
Posso imaginar soluções individuais, eu que possuo apenas um mandato de sobrevivente. E posso enviá-las. Não que queira que as engula ou digira, pois quem faz isso sou eu, que suporto essa mesquinha política caseira. Essa ladainha entrelaçada de hostilidade com decoro. Essa permanência do pequeno.
Posso convidá-los para ir para a rua também.
Algo quase ingênuo, mas bem revelado, então lá vai:
Nobres senadores: vossas excelências podem ir para a rua, o quanto antes.

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