05/08/2009

Um Drum na palha de milho

Em um jantar em Roma fiquei chocado: depois do segundo prato – dos cinco – eles acenderam cigarros. Os italianos comem cigarros, e até desisti de fumar por isso. Sou fumante, daqueles dependentes, mas fiquei realmente chocado. Eles perceberam meu espanto. Ainda iríamos continuar o jantar, mas eles disseram que ali era assim mesmo: pausa para o cigarro. Esperei a fumaça defumar a pasta e continuamos. Caroços de azeitona nas cinzas.
Uma vez em uma trilha na Ilha Grande, uma amiga acendeu um cigarro. Brigamos. Eu sou aquele fumante ecológico, daqueles que guardam suas guimbas para jogá-las no lixo e depois... Lógico que já tentei e continuarei a tentar a parar de fumar. Estou procurando a fórmula da Tabagina – que perdi. Nux Vomica e outros elementos associados. A estricnina parece ser o único veneno forte o suficiente para deter a dependência. Há a força da vontade, algo lendário porque a crise de abstinência pode levar a pessoa a cometer loucuras. O cigarro é uma droga poderosa e poucos conseguem parar sem acompanhamento médico. Se no Brasil, antes das tenebrosas imagens estampadas nos maços, tivessem, os fumantes, conseguido obter tratamento sério para se livrar da dependência era outro papo. As imagens deram à indústria tabagista o salvo conduto e o impedimento de processos que nos EUA já ocorriam. O alerta do governo livrou a indústria das responsabilidades sobre as conseqüências do fumo.
Agora essa lei do Governador Serra. Há quem goste mesmo de fumar e tomar sua cerveja num bar. Há quem, como os italianos que conheci, acenda o cigarro antes mesmo de terminar a refeição. Se for um Drum numa palha de milho, nossa!
Chega a ser risível e irônico que uma cidade como São Paulo se preocupe com fumaças de cigarro. Li uma pesquisa que dizia que uma pessoa andando na paulista fuma uns 2 cigarros por dia.
"As chances de ocorrer um infarto em meio a um congestionamento crescem em duas vezes e meia" A poluição nas grandes cidades tornou-se um grave problema de saúde pública, principalmente para as doenças cardiovasculares.”
A matéria completa está em http://www.nossasaopaulo.org.br/portal/node/560
Ou seja: os carros que entopem a metrópole, e os ônibus, caminhões e toda a indústria que polui o ar, a água e tudo o mais continuarão a despejar sobre nós – num raio de 400 km - o raio da fumaça maligna. O idiota fumante, já tomado pelo álcool, que se esquecer de ir para o meio da rua poluída, para baforar seu veneno, pode ser preso, multado ou abatido ali mesmo na mesa.
Poupe-me Governador. Poupe-nos dessa poluição que destruiu o Tietê, dessa poluição que se vê do avião quando se chega e quando se sai de São Paulo. Proíba que o desmatamento nas nascentes e mananciais acabe de vez com a água no Estado.
Concentre-se na defesa da Cantareira. E do que sobrou.
Recupere os rios, as florestas, a vida nesse estado comprometido.
Não estou defendendo o cigarro, fuma quem quer, e de preferência longe de quem não fuma. A poluição do ar é menos democrática: todos estamos submetidos ao mal, querendo ou não, e nem dá para beber uma cerveja tragando uma fumaça de óleo diesel daqueles que os caminhões soltam sem lei nem pena.
Que tal se proibíssemos também as fumaças todas de transitarem pelo ar?
Que tal se em vez de uma pessoa por carro houvesse transporte público de qualidade?
O Metrô de São Paulo sequer tem ar condicionado. Sua superlotação afugenta o usuário.
E as indústrias? O Governo realmente fiscaliza a poluição que produzem? Se fiscaliza mesmo – por quê esse resultado péssimo da qualidade do ar?
Não venham me dizer que é por causa do Zé que fuma seu Derby no boteco da esquina.
Bem, do jeito que vão as coisas no país, eu poderia até acreditar.

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