Sempre há algum perigo nos rondando. Se não algo físico, o pensamento.
Meu perigo atual, depois de uma seqüência absurda de ataques metafísicos, é a música que se repete e se repete sem parar no apartamento de cima. Quando se aproxima o sábado, ou a noite festejada, sei que Calcanhoto vai começar a cantar. Gostava dela, assim como se gosta de fruta-de-conde – há temporada para tudo. Mas, hoje, Adriana tornou-se meu desespero por conta da paixão do vizinho de cima.
Mesmo nos momentos de silêncio sei que ela está cantando, e seu canto vem, como um incenso, invadindo minha janela e teto, modificando tudo. Eu tremo. Pensei em convidá-la um dia para vir aqui, nesse condomínio estranhado, cantar para meu vizinho.
Uma vez a vi no aeroporto internacional com um violão encapado, enorme, sozinha, esperando um carro vir buscá-la. Uma imagem bonita, capa de disco.
Eu só o conheço de costas, quando desce para entrar em seu eco sport 2012. Atrás dele, uma fila de músicas, dela, se forma, charanga, para entrar no possante vermelhão.
Ele dever ser o tal macho alfa que o Vamp falou. Um macho alfa romântico.
Pensei um dia em conversar com ele, mas desisti. Cheguei a comprar uma Beth pra ele.
Ousadia: oferecer-lhe uma Ná Ozzetti.
Queria pautar seu gosto para ouvir, de cima, variações.
Como posso interferir na sua paixão por Calcanhoto, na paixão que a traz, repentina, quando estou no banho ou quase dormindo? Estive relendo as peripécias do homem comparado aos deuses em astúcia. Nada, o distanciamento que esta cidade impõe não permite implementar nenhuma estratégia. Noves fora, zero.
Meu mp3 lotado de músicas freqüenta meus ouvidos, não há uma música dela. Ela reina lá em cima, necessária. Absoluta.
Sua voz bossa nova lamenta o frio do Leblon glacial. Em São Paulo alguém, refugiado do Leblon, lembra-se do frio do bairro bacana. Isso é uma loucura. Só se for o da casa de Mariana, onde o ar está sempre em 16 graus. Onde se usa casaco em dezembro.
Tentei uma vez cantar junto para ver se, na freqüência, eu neutralizava a repetição infinita dos cds. Não sei a maioria das músicas, e esqueci meu diapasão nas aulas de música abandonadas. E, além do mais, sou muito desafinado para acompanhá-la.
Uma vez reagi com uma estratégia, já abandonada.
O que poderia rebater a malemolência gaúcho-carioca da cantora? Quem para neutralizar o cantarolar macio de um banquinho e violão de Adriana?
Cássia Eller. E quando percebi, estava me infernizando e ao vizinho de baixo com o rebote da Cássia. Um sábado, tendo que montar três aulas, lancei mão do jazz, blues, samba e Chico Science. Nada. Adriana vinha de cima costurando o ar, presente nos espaços dos silêncios, imperando no tempo de minhas escolhas, no tempo do meu vacilo, como se um soldado, surpreendido ao recarregar sua espingarda, dá de cara com o inimigo.
Toda sexta-feira todo canto é santo e toda conta toda gota toda onda toda moça toda renda
Cariocas nascem bambas Cariocas nascem craques Cariocas têm sotaque Cariocas são alegres Cariocas são atentos Cariocas são tão sexys Cariocas são tão claros Cariocas não gostam de sinal fechado
O Parangolé Pamplona Faça você mesmo E quando o couro come É só pegar carona Laranja Vermelho
Cada um um Cada um um sim Cada um um simbiótico
Caminho ao longo do canal Faço longas cartas pra ninguém E o inverno no Leblon é quase glacial
E tem algo que jamais se esclareceu:
como e porquê ao embalar minhas caixas para a mudança ( o deus Mu – Dança ) eu me embalo ainda com as canções?
Você não é doce de côco, mas enjoei de você, isso é de quem: Jerry ou Wanderlei?
Nem vou ver no google, espero que ela grave um dia. E que ele, meu vizinho amado, seja feliz. Porque eu, eu Sempre me quis só No deserto sem saudade, sem remorso só Sem amarras, barco embriagado ao mar.
Meu perigo atual, depois de uma seqüência absurda de ataques metafísicos, é a música que se repete e se repete sem parar no apartamento de cima. Quando se aproxima o sábado, ou a noite festejada, sei que Calcanhoto vai começar a cantar. Gostava dela, assim como se gosta de fruta-de-conde – há temporada para tudo. Mas, hoje, Adriana tornou-se meu desespero por conta da paixão do vizinho de cima.
Mesmo nos momentos de silêncio sei que ela está cantando, e seu canto vem, como um incenso, invadindo minha janela e teto, modificando tudo. Eu tremo. Pensei em convidá-la um dia para vir aqui, nesse condomínio estranhado, cantar para meu vizinho.
Uma vez a vi no aeroporto internacional com um violão encapado, enorme, sozinha, esperando um carro vir buscá-la. Uma imagem bonita, capa de disco.
Eu só o conheço de costas, quando desce para entrar em seu eco sport 2012. Atrás dele, uma fila de músicas, dela, se forma, charanga, para entrar no possante vermelhão.
Ele dever ser o tal macho alfa que o Vamp falou. Um macho alfa romântico.
Pensei um dia em conversar com ele, mas desisti. Cheguei a comprar uma Beth pra ele.
Ousadia: oferecer-lhe uma Ná Ozzetti.
Queria pautar seu gosto para ouvir, de cima, variações.
Como posso interferir na sua paixão por Calcanhoto, na paixão que a traz, repentina, quando estou no banho ou quase dormindo? Estive relendo as peripécias do homem comparado aos deuses em astúcia. Nada, o distanciamento que esta cidade impõe não permite implementar nenhuma estratégia. Noves fora, zero.
Meu mp3 lotado de músicas freqüenta meus ouvidos, não há uma música dela. Ela reina lá em cima, necessária. Absoluta.
Sua voz bossa nova lamenta o frio do Leblon glacial. Em São Paulo alguém, refugiado do Leblon, lembra-se do frio do bairro bacana. Isso é uma loucura. Só se for o da casa de Mariana, onde o ar está sempre em 16 graus. Onde se usa casaco em dezembro.
Tentei uma vez cantar junto para ver se, na freqüência, eu neutralizava a repetição infinita dos cds. Não sei a maioria das músicas, e esqueci meu diapasão nas aulas de música abandonadas. E, além do mais, sou muito desafinado para acompanhá-la.
Uma vez reagi com uma estratégia, já abandonada.
O que poderia rebater a malemolência gaúcho-carioca da cantora? Quem para neutralizar o cantarolar macio de um banquinho e violão de Adriana?
Cássia Eller. E quando percebi, estava me infernizando e ao vizinho de baixo com o rebote da Cássia. Um sábado, tendo que montar três aulas, lancei mão do jazz, blues, samba e Chico Science. Nada. Adriana vinha de cima costurando o ar, presente nos espaços dos silêncios, imperando no tempo de minhas escolhas, no tempo do meu vacilo, como se um soldado, surpreendido ao recarregar sua espingarda, dá de cara com o inimigo.
Toda sexta-feira todo canto é santo e toda conta toda gota toda onda toda moça toda renda
Cariocas nascem bambas Cariocas nascem craques Cariocas têm sotaque Cariocas são alegres Cariocas são atentos Cariocas são tão sexys Cariocas são tão claros Cariocas não gostam de sinal fechado
O Parangolé Pamplona Faça você mesmo E quando o couro come É só pegar carona Laranja Vermelho
Cada um um Cada um um sim Cada um um simbiótico
Caminho ao longo do canal Faço longas cartas pra ninguém E o inverno no Leblon é quase glacial
E tem algo que jamais se esclareceu:
como e porquê ao embalar minhas caixas para a mudança ( o deus Mu – Dança ) eu me embalo ainda com as canções?
Você não é doce de côco, mas enjoei de você, isso é de quem: Jerry ou Wanderlei?
Nem vou ver no google, espero que ela grave um dia. E que ele, meu vizinho amado, seja feliz. Porque eu, eu Sempre me quis só No deserto sem saudade, sem remorso só Sem amarras, barco embriagado ao mar.
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