A euforia que tomou conta das autoridades e da população em geral com a decisão de se fazer as Olimpíadas no Rio em 2016 ainda não me arrebatou. Seja porque o Rio é uma cidade acostumada a grandes eventos, com um Réveillon dos mais desejados e o maior carnaval do mundo, seja pela dualidade em se festejar e ao mesmo tempo questionar o desperdício de dinheiro público que já se antevê: essa questão foi colocada em vários e variados comentários sobre a escolha da cidade, como uma conseqüência natural, praga de nossa cultura política.
Evidente que o Pan-Americano ainda está como um fantasma assombrando a lisura das obras, sua perenidade e utilidade.
O Rio tem, naturalmente, condições de receber e produzir uma Olimpíada singular.
Não há, como o Rio, cidade que saiba festejar mais, interagir mais com visitantes.
Os problemas de violência e segurança, tão propalados, sequer chegam próximos de outras cidades onde a possibilidade de atos terroristas desfazem qualquer ideal olímpico. Ou mesmo, como em Pequim, onde o peso do regime comunista pairava pesado sobre tudo. Uma antítese radical com o ideal olímpico.
Será uma oportunidade única para que o Rio receba o tratamento que merece. Uma cidade que, em seqüência, teve prefeitos que fizeram no máximo experiências de urbanização, absolutamente temporárias.
O Rio Cidade, ou favela bairro, calçadas maquiadas, obeliscos, pinturas de fachadas, uma perda de tempo e grana numa cidade que sequer tem um metrô que chegue à rodoviária, que nega ainda o poderio do transporte sobre trilhos ou por mar, tão óbvio para uma cidade com uma baía ( que precisa urgente de tratamento sério de despoluição) e de uma cidade que não preserva seus casarios e história.
A urbanização de favelas precisa enfrentar o que sempre se simulou mas nunca de fato se enfrentou: um poder paralelo que foi se formando diante de uma população dominada e subjugada. Diante de autoridades quase sempre omissas ou sem um projeto real.
O que ocorre é que o tema de investimento inicial da ordem de 25 bilhões reais para o evento já acionou um sinal vermelho: a possibilidade das nada transparentes licitações ou aplicações do dinheiro já produziu propostas de uma comissão especial para acompanhar as obras. Vamos ver. Tomara que além da transparência nas contas, as obras sirvam de fato para a cidade.
Que tal se a euforia das autoridades não se transmutasse em uma nova atitude: conjugar a alegria da Olimpíada no Rio de Janeiro com um projeto honesto de aproveitamento desses investimentos de fato para a cidade, e lógico, tudo dentro de uma rigorosa prestação de contas?
A cidade merece o respeito e a admiração de todos. Espero que, da euforia, surja o jogo limpo. E a cidade assuma de vez o seu imenso potencial turístico.
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